Apesar do cenário de desaceleração da inflação, o varejo brasileiro enfrentou uma queda de 1% no faturamento, resultado da manutenção dos juros altos. Porém, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) ainda mantém uma expectativa positiva para as vendas em 2023, impulsionada pela consolidação do recuo na inflação e indicadores favoráveis do mercado de trabalho. Mesmo diante da convergência das expectativas para a meta de inflação, a CNC revisou a previsão de crescimento das vendas, diminuindo de 1,8% para 1,4%.
Apesar dos desafios, o varejo apresentou números promissores ao longo do ano, com um crescimento acumulado de 1,3% em comparação ao mesmo período de 2022. Os setores de hiper e supermercados tiveram destaque, registrando um aumento de 2,5%, juntamente com o segmento de combustíveis e lubrificantes, que apresentou um impressionante crescimento de 15,5%.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, aponta que a política de manutenção dos juros elevados e o crédito caro e seletivo dificultaram o desempenho do varejo. Ele ressalta que a desaceleração dos preços e a menor dependência desses segmentos em relação às condições de crédito impulsionaram o crescimento das vendas. Especialmente no caso dos combustíveis, os preços médios ao consumidor tiveram uma variação descolada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), caindo 25,86% nos últimos 12 meses, enquanto o IPCA registrou alta de 3,94%.
Embora o início da pandemia tenha sido um período de queda acentuada da atividade econômica, o varejo vem apresentando uma tendência suave de recuperação, com crescimento de 2,7% em relação ao período mais crítico de 2020, conforme destacado pelo economista Fabio Bentes, responsável pela análise da CNC.
Apesar da rápida desaceleração do índice geral de preços, o economista ressalta o peso do aperto monetário no desempenho do varejo brasileiro. As atividades mais dependentes de crédito registraram variações negativas, como venda de artigos de uso pessoal e doméstico (-13,1%), tecidos, vestuário e calçados (-10,1%), e móveis e eletrodomésticos (-3,3%). O varejo ampliado, incluindo venda de materiais de construção e comércio automotivo, também enfrentou desafios, com quedas de 7,8% e 1,4%, respectivamente.
Outro fator determinante é o elevado comprometimento da renda das famílias com endividamento, apontado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC. Em maio, 78,3% das famílias estavam endividadas, com 29,7% da renda comprometida com dívidas.
Diante desse contexto desafiador, os ramos especializados em atender demandas essenciais apresentaram altas significativas, como as vendas de combustíveis e lubrificantes, que tiveram um aumento de 21%, e as das farmácias e perfumarias, que cresceram 3,9%. Os hiper e supermercados também avançaram, com um crescimento de 2,7%.
Apesar dos obstáculos enfrentados, o varejo brasileiro continua demonstrando sua capacidade de se adaptar e prosperar, buscando oportunidades mesmo em meio aos desafios impostos pelo cenário econômico atual.