Opiniões

Sif ou não Sif, eis a questão

Estreio hoje nesta coluna com o primeiro de uma série de assuntos complexos e, acima de tudo, difíceis de entender, praticar e conviver. Desta vez, o foco é o Serviço de Inspeção Federal (SIF), que requer muito trabalho, dedicação, empenho, aprendizado e investimento. Afinal é um padrão preconizado pelo governo federal e exigido como garantia de qualidade e segurança amparados em processos rígidos e controles frequentes cujo intuito é catapultar a indústria para atender mercados mais exigentes e alargar suas fronteiras comerciais.
Difícil contrariar as boas intenções e objetivos do SIF que são, além de louváveis, extremamente necessários. O problema decorre, entretanto, da dificuldade de obtê-lo e praticá-lo, uma vez que falta clareza, organização e disponibilização de demandas e pré-requisitos necessários, além da ausência de efetivo disponível para esclarecimento de dúvidas e questionamentos que são comuns inclusive entre os próprios fiscais federais.
Chama ainda mais a atenção a manutenção e adequação do SIF na indústria do pescado que, comparativamente com a indústria de bovinos, suínos e ovinos, tem realidade tão diferente que torna o desafio hercúleo.
Sabendo que um dos objetivos maiores do SIF é a rastreabilidade dos produtos de origem animal, não há tanta dificuldade em imaginar um rigoroso processo de conhecimento e identificação desde a origem até a comercialização dos bovinos, suínos e ovinos já que suas cadeias são mais organizadas e estruturadas, alem de conhecidas e mapeadas.
Imaginem, entretanto, a famigerada e desestruturada cadeia de pescados, em especial a pesca extrativa, onde a base pesqueira encontra-se descentralizada, pulverizada e em sua grande maioria esquecida ao largo do nosso imenso litoral. Minguantes pescadores artesanais, a bordo de suas embarcações ultrapassadas e inadequadas, singram os mares em busca do seu sustento, confiantes no retorno incerto e baseado nos conhecimentos passados de geração em geração onde o GPS dificilmente está ligado.
Fácil concluir, portanto, que enquanto o SIF galopa em outras cadeias que se profissionalizam e crescem, contribuindo importantemente para a escalada da economia nacional, a cadeia da pesca agoniza e engatinha.
Se não fossem os 7.367 kilômetros de litoral nacional, as 12 bahias hidrográficas e a maior reserva de água doce do planeta, não incomodaria conviver com o fracasso do pescado num país que oferece um dos maiores potenciais do mundo para o desenvolvimento pesqueiro.
Enquanto isso, já judiados pelo sol e pelo sal, os pescadores encaminham seus filhos para um futuro melhor e diferente daquele a beira mar, agravando ainda mais a já precária situação da atividade pesqueira que agora sofre com a ausência de herdeiros.
Na outra ponta, supermercados, restaurantes, hotéis, buffets e renomados chefes intensificam sua busca pelo pescado fresco, selvagem e com procedência, sem abrir mão da segurança, qualidade e rastreabilidade garantidas pelo selo do SIF que é exigência legal nesses estabelecimentos.
Infelizmente, porém, como é de se imaginar, são poucos os empreendedores insanos dispostos a investir numa indústria sifada de pescados que culmina no aumento óbvio do custo de produção, além de engessar e impor vários processos difíceis, para não dizer impossíveis, de serem atendidos considerando todas as rupturas e mazelas da cadeia produtiva.
E, na contramão do desejo nacional por um país em que as leis sejam cumpridas e respeitadas, enxergamos de camarote o avanço das peixarias que acabam atendendo a esta demanda latente sem qualquer aderência as exigências do SIF e colocando em risco a legalidade dos estabelecimentos compradores, mas que parecem não ter outra opção.
Brasil!
Rodrigo Fróes é diretor da Associação Nacional de Restaurantes (ANR) e sócio do 3F Group (Morota Pescados, Morota Frutos do Mar e Jam)
*Publicado originalmente no site SeaFood Brasil

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