Na Mesa com Simone Galante
Formada em Engenharia de Alimentos e pós-graduada em Administração, Simone Galante tem mais de 25 anos de experiência no ramo food service. É fundadora e CEO da Galunion Consultoria e Gestão, grupo com mais de 10 anos de história no segmento e tem clientes como Subway, Rede Ráscal e Rede Ipiranga AM/PM. Segundo ela, em 2022 o mercado será cada vez mais competitivo e a luta entre concorrentes será dura.
MENU DO DIA:
• Tendências para práticas e serviços no food service em 2022 no Brasil
• A importância da transformação digital para as empresas
• Um atendimento centrado no cliente é a chave
QUAIS SERÃO AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DO FOOD SERVICE PARA 2022?
Simone Galante: As tendências que regem o food service em 2022 estão focadas em dois grandes eixos. O primeiro deles está ligado a CUIDAR e RESTAURAR: cuidar do mundo com um foco mais sustentável, do impacto nas comunidades e de como se comunicar, do cliente, inclusive da saúde dele e cuidar do time, dos nossos colaboradores.
O segundo eixo é o ligado à rapidez, à velocidade e à nova forma de comprar e vender, que chamamos de Q-Commerce: dark
kitchens, dark stores, delivery mais rápido do que nunca e processos integrados entre o físico e digital.
O ESG VAI CHEGAR AO FOOD SERVICE? A PREOCUPAÇÃO COM UMA ALIMENTAÇÃO MAIS SAUDÁVEL E COM UM PLANETA MAIS SUSTENTÁVEL SERÁ O CAMINHO PARA 2022?
Simone Galante: O ESG já chegou ao food service e vai se disseminar cada vez mais. Desde 2019, ouvimos os consumidores dizendo que valorizam mais as marcas que defendem causas, entre elas a sustentabilidade. Desperdício faz mal para o planeta e para os resultados do negócio. Com a inflação em alta, nada melhor do que repensar processos e rever onde temos mais desperdício. Os impactos sociais foram muito conhecidos durante a pandemia, e os quase 14 milhões de desempregados geram uma responsabilidade adicional para os negócios. A Classe C, que havia sido uma importante faixa da população para a alimentação fora do lar, já não consegue mais ter poder aquisitivo ou frequência de consumo, e precisamos refletir sobre isso.
Os processos de gestão e governança das empresas passaram por um grande teste de agilidade e relevância durante a pandemia,
afinal se você não tem os números do seu negócio em tempo real, a tomada de decisão fica muito prejudicada. Em tempos de
crise e de inflação, há alterações tão significativas que você mais do que nunca precisa ter dados, ter contato direto com clientes,
fornecedores, parceiros e com seu time. E a questão de saúde de todos ainda está muito latente, a cada notícia a liderança tem um
papel importante.
O DELIVERY E AS DARK KITCHENS VÃO DOMINAR O MERCADO?
Simone Galante: O delivery veio para ficar e com ele, as dark kitchens. Ainda há muito o que fazer para a sustentabilidade financeira
dos modelos de negócio, especialmente no que se refere aos custos de aquisição digital dos clientes e da logística de entrega. Para
nós, os modelos que estão ganhando tração já descobriram como equacionar melhor estas duas questões, e usam fortemente dados e tecnologia para aprimorar seus processos. Dominar o mercado no Brasil, de dimensões continentais, é uma ambição muito grande.
Eles serão sim responsáveis por boa parte do faturamento, mas no curto prazo ainda não serão a maioria do mercado. Nesta
área, temos dois extremos: microempreendedores ou homechefs que são artesanais e operam de suas residências, e temos outros
operadores extremamente tecnológicos que se baseiam em dados para dominar várias culinárias no delivery e que conhecem a arte
da comunicação digital; o que tenho certeza é de que será cada vez mais competitivo e a luta, por ser relevante, será dura.
COMO A ADESÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS PODE FACILITAR A OPERAÇÃO E AJUDAR NA ATRAÇÃO/FIDELIZAÇÃO DE CLIENTES?
Simone Galante: Primeiro, com foco centrado nas pessoas! Explicando melhor, para novas tecnologias serem adotadas é preciso
um olhar bem apurado e focado no que, de fato, pode trazer de benefício para o cliente se sentir melhor ao se relacionar e escolher
o seu negócio. Pode ser uma experiência, ou uma oferta matadora quando ele estava precisando. Mas como descobrir como
está a jornada das pessoas nas comunidades que frequentam? Se usarmos a tecnologia para mapear comportamentos, identificar os consumidores e suas preferências, pode ser um caminho (lembre- se que sempre tudo começa com ótimos cadastros!). Se adotarmos uma tecnologia que faz diminuir o tempo de entrega ou de produção do cardápio, também pode ser uma solução necessária.
Portanto, sempre pense muito bem: vai facilitar a vida do cliente? O que ele ganha com isso? Ele virá mais aqui do que no meu concorrente? Por quê? O processo de escolha é multifacetado na mente dos consumidores: e uma coisa é certa – se ele tiver boas experiências com uso de tecnologia em qualquer área da vida dele, ele vai procurar repeti-las. O ato de fidelizar um cliente, no fundo, é invertido… Acontece quando nós somos fiéis aos nossos clientes, ouvindo-os, entregando a eles a possibilidade de pertencerem a uma causa ou a uma comunidade. O cliente chega de diferentes formas e estímulos, mas permanece quando se conecta com este senso de pertencimento – ele vai pensar: sim, esta marca me entende.